terça-feira, junho 21, 2005


Pontualidades



Há quem ache que se trata de uma questão de educação, quem descubra salpicos de tradição ou quem descortine recortes de feitio. Complacente com qualquer destes preceitos, ou outros mais, creio que ser ou não pontual não se compadece com grandes conceptualismos. Para mim é mais: respeitinho é muito bonito, quem não se sente não é filho de boa gente e pão pão, pejo pejo.
Primeiro, a pontualidade é reconhecidamente basta em virtudes e falha em escusas, verdadeiras ou falsas – para o dano tanto faz. Depois, não há ausências sem culpas, nem presenças sem desculpas.

Ora, muito a propósito – eu é que sei! –, os meus quatro colegas aqui do sítio (espécimes algo raros, avanço) reflectem au point outras tantas díspares formas de pontuar a agenda.

Comecemos pela Francisca. Uma menina que se esmera na arte de conciliar as horas. Admite que o seu Jaeger-LeCoultre está longe de ser fiável, concede que o Big Ben foi sempre uma empedrada pilha de avarias. Preencher bem o tempo é imperativo e o cronógrafo mero auxiliar de memória. Não obstante, conhece melhor do que ninguém o imenso charme de um pequeno atraso, de um certo atraso, do fiável atraso dos dez minutos...
Não fosse o pequeno pormenor de trocar, quase sempre, as oito da noite pelas mesmas da manhã ou a Quinta de uma semana pelo Monte de uma outra qualquer, eu diria, friso diria, estar perante a pontualidade no seu estado mais puro.

O Filipe é um caso raro de impontualidade. E um caso perdido, também. Por muito que custe, este ignóbil comportamento não só denota uma franca falta de respeito pelo próximo como configura uma desagradável atitude de quase desleixo perante a vida. É que esta coisa de aparecer meia hora antes, sempre meia hora antes, da hora combinada já chateia! Um destes dias cheguei dez minutos adiantado e disse-me que estava vinte atrasado... pode ser? Filipe, Sexta-feira é às 14:30, se faz favor...!

Já o Diego é um alquimista do tempo: marca tudo à mesma hora e, juro-vos, não falha com ninguém! É certo que da última vez que fui jantar com ele surgiram à mesa um engenheiro, duas juristas, um fiscal das finanças e o médico de família...

O caso da Prima é o mais grave, com maior carga dramática e, de longe, o mais científico. Um verdadeiro case study. Eu próprio, após árduo trabalho de campo, cheguei à seguinte fórmula:

A = En + (4En + 60)/2 <=>
A = 3En + 30


Em que A=Atraso em minutos; En=Forma de Entoação, onde 'n' assume quatro valores:
۰ 0 se entoar um 'AGORA' => E0=0
۰ 1 se entoar qualquer coisa convicta => E1=15
۰ 2 se entoar qualquer coisa banal => E2=30
۰ 3 se entoar qualquer coisa lacónica => E3=60

Passo a explicar:
1- Se a Prima disser, por exemplo, um 'vou telefonar AGORA!', telefonará meia hora depois (A = 3x0 + 30);
2- Se disser convictamente '...estou aí às 16:00 em ponto!', o atraso será de uma hora e um quarto (A = 3x15 + 30);
3- Se proferir um normalíssimo '...às 16:00? Com certeza, lá estarei', chegará, com certeza, às 18:00 (A = 3x30 + 30);
4- Se algum incauto tiver o azar de apanhar um 'ok... então por volta das 16:00...', demorará, em bom rigor, três horas e meia (A = 3x60 + 30)!
Aqui a entoação não engana.

Agora digam-me, a que horas deverei combinar um jantar nesta Sexta de forma a que todos eles apareçam ± à mesma hora...? Heim? Hum? Pois...

domingo, junho 19, 2005


A lição do Tiago

Vencer é fácil, convencer é que custa.

sexta-feira, junho 17, 2005


A propósito do home video do bebé Diniz

Paris, Londres, Estocolmo
Tanta capital jeitosa por essa Europa
Madrid, Dublin, Copenhaga
Porque raios de cósmica ironia
Roma, Viena, Oslo
Me recenseei em Lisboa?

quarta-feira, junho 15, 2005


Falar de Cunhal

Eu ia prescindir, mas o tema é invasivo e contagioso: impossível evitar a morte dos mitos. Seja, a star is dead.

Álvaro Cunhal professou em fé como homem do seu tempo. Não fosse comunista, não sentiria nem seria filho de boa gente. Um misto de espírito de missão, capacidade de luta e acuidade intelectual levaram-no rapidamente ao topo, tanto do imaginário comunista como do aparelho partidário. O cárcere enobreceu-o e esculpiu-lhe fundo o perfil de herói.

Era também um aparatchik. Não podia ignorar o que sempre recusou ver. Uma ditadura é uma ditadura é uma ditadura… A desilusão de um velho comunista é por demais devastadora, a ilusão instinto de sobrevivência. Mas o autismo da crença para além da evidência não se compadece com boas intenções: por essa ordem de ideias, Salazar também era um homem inteligente e abnegado, devotado à causa pública e convicto de que agia para o bem dos portugueses.

À luz da História, o Cunhal do PREC denota a crispação de quem se sabe peão em guerra fria. E um soldado que falhou o objectivo não pode abjurar a causa. Vai ficar-lhe preso até ao fim. Que resta? O passado resistente, o heroísmo do lutador, a coragem de um protagonista. O perfil granítico e a mordacidade inteligente. Ou seja, sobretudo a personalidade. Outro culto, portanto.

segunda-feira, junho 13, 2005


Poema

Balança

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

Eugénio de Andrade, Ofício de Paciência

segunda-feira, junho 06, 2005


Uma questão de timing

Alberto João Jardim, não me apercebi em que enquadramento estava, vociferou contra alguns "bastardos para não lhes chamar filhos da piiiii" da comunicação social do continente, pois claro.

Este facto provocou reacções de indignação dos mais diversos quadrantes, inclusivamente do lider do seu partido.

Os jornalistas apressaram-se a confrontar Alberto João com as opiniões de Marques Mendes, tendo aquele desmentido ter chamado filhos da piiii a jornalistas.

Ora aqui é que bate o ponto: aberto o plano da câmara verificou-se, desta vez, o enquadramento de AJJ, ou seja, qualquer coisa que metia garrafas aparentemente cheias de néctares de castas locais. Cheias, note-se!

Tivessem os jornalistas paciência e aguardado o fim do evento e, seguramente, Alberto João Jardim não só confirmaria o que toda a gente ouvira da sua boca no dia anterior, como nos daria mais algumas alegrias.

quinta-feira, junho 02, 2005


Jå!

Entre tanto non e nee, pareceu-me que os letões também deviam ter direito a uma referência. Babel, teu nome é Europa…


Man bites dog ou as pessoas felizes não têm história

É quase tão raro encontrar nas notícias uma história de pessoas felizes como a um camelo rico entrar no céu pelo buraco de uma agulha. Aqui vai uma excepção, pescada na imprensa britânica.

Ontem, dia 1 de Junho de 2005, Florence e Percy Arrowsmith, respectivamente, de 100 e 105 anos de idade, residentes em Hereford, na Inglaterra, celebraram 80 anos de casados. Festejaram em casa, com os três filhos, seis netos e nove bisnetos, mais os amigos e vizinhos. O Guiness World Records ofereceu-lhes dois diplomas: o do casamento mais longo da história e do o casal com o maior total anos de idade, 205. A rainha mandou o cartãozinho de parabéns da ordem: Elizabeth Windsor é um pedaço forreta.

Mr. Arrowsmith, nitidamente um homem realista, atribui a longevidade do casamento a duas palavras: yes, dear. Já Mrs Arrowsmith - so smart - afirma que tal se deve ao facto de o casal nunca se deitar sem antes resolver os seus conflitos: "we always go to bed as friends and always make up before we go to sleep with a kiss and a cuddle". Se bem que já não discutam muito, só quando ela quer ver soaps, coisa que o marido detesta. O mínimo que a sovina lhes podia ter oferecido era uma segunda televisão. E daí, talvez não.

quarta-feira, junho 01, 2005


Irra...!!!

Eu até era para postar sobre coisas mais levezinhas - como as explícitas vantagens (desperdiçadas) para a França e para todos os grandes países europeus deste Tratado Constitucional, sobre o vírus deficitário que se entranhou pelo país adentro ou a vacina de combate perpetrada por esse ganda cientista, Zé Sócrates, sob o alto patrocínio do Vitinho -, mas a ira que ainda ciranda por muitos círculos portistas já chateia!

Não é que foram todos unânimes quanto à justeza do resultado da Taça de Portugal, SLB incluído, e aqueles senhores ainda andam a escalpelar os erros do árbitro durante o jogo? Acham isto normal? Isto é de gente que bate bem? Será que os ceguetas chegarão ao cúmulo do ridículo afirmando que quem devia ter ganho o jogo era o Vitória de Setúbal?

Haja Benta Paciência!